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Euclides da Cunha 1866 - 1909

''Venci por mim só, sem reclames, sem patronos, sem a rua do Ouvidor e sem rodas. Não invejo, porém,

os que se vão buscando mar em fora, de outras terras, a esplêndida visão...

Fazem-me mal as multidões ruidosas, e eu procuro, nesta hora,

cidades que se ocultam majestosas na tristeza solene do sertão." - Euclides da Cunha (1866 - 1909)

À memória de Euclides (José Marcio Castro Alves)


Sr. Redator, 18 de fevereiro de 1894.

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Rio, 18 de fevereiro de 1894
Sr. Redator
Em carta ontem publicada, dirigida ao redator d'O Tempo, o sr. João Cordeiro manifestou sentimentos de tal natureza, que, caso passem em silêncio, provocarão um grande e doloroso espanto no futuro, definindo pela pior maneira a feição atual da sociedade brasileira.
É muitíssimo justo que se dêem a um amigo parabéns pelo malogro de um atentado covarde como aquele que, segundo se afirma, foi ideado à redação de O Tempo. É porém, profundamente condenável aliar-se à justíssima condenação de um crime uma represália talvez ainda mais criminosa. Assim é que o sr. João Cordeiro sugeriu o alvitre singular e bárbaro de lançar-se mão das mesmas armas criminosas e reduzir a retalho as prisões onde estão os rebeldes, etc..., caso não se possa conseguir o fuzilamento dos dinamitistas. Confesso, sr. Redator, que uma tal proposição, ousadamente atirada à publicidade, num país nobilitado pela forma republicana, deve cair de pronto sob a revolta imediata dos caracteres, que na fase dolorosa que atravessamos tenham ainda o heroísmo da honestidade.
E necessário ainda que este protesto parta justamente dos arraiais daqueles que, pelo fato mesmo de lutarem sob a égide da lei, se consideram bastante fortes, para não descerem a selvatiquezas de tal ordem. E o que faço, desafiando embora a casuística singular que por aí impera, mercê da qual é fácil estabelecer-se a suspeição em torno das individualidades mais puras, tornando-as passíveis dos piores juízos.
Este protesto não exprime a quebra de solidariedade com os companheiros ao lado dos quais tenho estado; exprime simultaneamente um dever e um direito.
De fato, quem quer que tenha uma compreensão mais ou menos lúcida do seu tempo, deve procurar evitar a revivescência do barbarismo antigo; quem quer que seja medianamente altivo, pode afastar a camaradagem deprimente de quem almeja o morticínio sem os perigos do combate.
Euclides da Cunha, engenheiro militar.