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Rio, 20 de fevereiro de 1894
Sr. Redator
A fim de reduzir corolários ilogicamente deduzidos da minha carta anterior, peço mais uma vez lugar nas colunas do vosso jornal, afirmando-vos que não renovarei este apelo ao vosso cavalheirismo, porque não devo malbaratear em polêmicas que se tornem pessoais o tempo que devo empregar trabalhando pelo meu pais. Afeito a proceder retilineamente, não temo os perigos das posições definidas, e afirmo mesmo que, por maiores que sejam aqueles, estas são sempre as mais cômodas.
As conseqüências que aprouve à redação d'O Tempo tirar das minhas palavras são tão profundamente irritantes e falsas, que exigem uma réplica imediata. Não sei que modalidades deva assumir a minha linguagem para fazer compreender aos que comigo lutam pela mesma causa com sentimentos diversos, que também condeno inexoravelmente a turbamulta perigosa que irrompe atualmente de todas as sociedades, planeando o mais condenável ataque a todo o capital humano, e tentando macular, cobrir com uma fumarada de incêndio o vasto deslumbramento do nosso século. Por isso mesmo que os condeno, é que entendo que eles devem cair esmagados pela reação de todas as classes; mas por isso mesmo que odeio os seus meios de ação repilo-os, entendendo que a reação pode perfeitamente, com maior intensidade, definir a serenidade vingadora das leis.
E necessário que tenhamos a postura corretíssima dos fortes! Não é invadindo prisões que se castigam criminosos. Nada mais falível e relativo do que esta justiça humana condecorada pela metafísica com o qualificativo
de absoluta. Há nos sentimentos que ambos tributamos à República uma diferença enorme: V. x. tem por ela um amor tempestuoso e cheio de delírios de amante, eu tenho por ela os cuidados e a afeição serena de um filho.
Persisto, pois, na deliberação fortemente tomada de o não considerar como um companheiro de lutas.
O futuro dirá quem melhor cumpriu o seu dever.
Euclides da Cunha, primeiro tenente.