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Rio, 27 de maio de 1908
Francisco Escobar
Recebi a tua carta estimando que tivesse feito boa viagem encontrando todos os teus bons. Aqui vou indo com os meus mapas e velhos alfarrábios — até que se me abram outra vez as estradas perigosas do deserto.
Depois que partiste — pensei ainda melhor sobre o teu belo sonho — chegando mais uma vez a este resultado: abandonar de vez qualquer idéia da minha candidatura revolucionária. Ser deputado nesta terra é hoje uma profissão qualquer — para a qual decididamente não me preparei. Os homens repelem, com razão, o intruso. Além disto, absolutamente não desejo que te sacrifiques numa atitude rebelde — sobretudo considerando que — fatalmente — um sacrifício inútil.
Sinto-me bem na minha posição — e seria para mim, deplorável, os nossos grotescos pais da pátria imaginassem que eu invejo a deles.
Portanto, seu Escobar, passemos uma esponja sobre o nosso romance eleitoral. Acho que não deves abandonar a idéia de deixar essa terra. Não por causa do pobre Jaguari, com o qual simpatizo, embora nunca o tenha visto. Mas sim porque terás aqui melhores elementos para desenvolver a tua atividade. Não preciso dizer-te que farei o que em mim caiba para te auxiliar em qualquer pretensão.
Dê muitas lembranças ao dr. Castelo Branco e Adalgiso.
Saudades nossas aos teus.
Um abraço do
Euclides
P. S. — Contei ao João Luís, a magnífica tirada do maravilhoso Pacheco de Belo Horizonte — e o João Luís, o esperto, o inteligente amigo, garantiu-me que ele não disse semelhante coisa!!...
[Obs. Há na carta uma mancha de tinta preta; no rodapé, na ponta de uma seta desenhada por Euclides, encontra-se escrito o seguinte:]
Não repares: foi uma lágrima negra que me espirrou dos olhos, em
cima da defunta candidatura!
Que a terra lhe seja leve...