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Euclides da Cunha 1866 - 1909

''Venci por mim só, sem reclames, sem patronos, sem a rua do Ouvidor e sem rodas. Não invejo, porém,

os que se vão buscando mar em fora, de outras terras, a esplêndida visão...

Fazem-me mal as multidões ruidosas, e eu procuro, nesta hora,

cidades que se ocultam majestosas na tristeza solene do sertão." - Euclides da Cunha (1866 - 1909)

À memória de Euclides (José Marcio Castro Alves)


A Lúcio de Mendonça

*


[A Lúcio de Mendonça] 1904 ???
Li com o máximo interesse a sua carta de 22 onde estão alguns apontamentos sobre o nosso homem. Não se surpreenda com o desejo de conhecer tais pormenores, por parte de quem, (estudante militar e formando-se precisamente na época em que — em pleno poder — nos colocava acima de todos os homens deste país) devia-os conhecer perfeitamente. Explico: naquela quadra não calculei bem a situação; vi no homem apenas um do. muitos soldats heureux que entram estonteadamente na história. Além fui sempre um tímido; nunca perdi esse traço de filho da roça que me desequilibra intimamente ao tratar com quem quer que seja. Daí o ter perdido.
Aqui tenho um convite que leio hoje com tristeza e que na ocasião recebi com indiferença. "29 de janeiro de 1893. Euclides — o marechal precisa lhe falar hoje. Pinto Peixoto".
Lá fui constrangido na minha farda de 2º tenente e atrapalhado com a espada. Encontrei o homem na sala de jantar, à vontade, e em um dos seus dias de expansão. A filha mais velha, d. Ana, que já naquela hora matinal estava junto a uma máquina de costura — retirou-se logo que a cumprimentei.
E o grande dominador abriu-me a apertadíssima pasta da sua intimidade: Veio em ar de guerra... não precisava fardar-se. Vocês aqui entram como amigos e nunca como soldados.
Decorei textualmente. Agora meu caro dr. Lúcio, vá preparando o mais fulminante alexandrino das Vergastas para fulminar a minha horrorosa inaptidão. O grande doador de posições, referindo-se à minha recente formatura e ao meu entusiasmo pela República, declarou-me que tendo eu direito a escolher por mim mesmo uma posição, não se julgava competente para indicá-la... Que perspectiva! Basta dizer-lhe que estávamos em pleno despencar dos governadores estaduais!...
E eu (nesta época sob o domínio cativante de Augusto Comte, e que isto vá como recurso absolutório) — declarei-lhe ingenuamente que desejava o que previa a lei para os engenheiros recém-formados: um ano de prática na E. F. C. do Brasil!
Não lhe conto o resto. Quando me despedi pareceu-me que no olhar mortiço do interlocutor estava escrito: nada vales.
E tive ainda a inexplicável satisfação de descer orgulhosamente as escadas do Itamarati, atravessar alegremente o saguão, embaixo, e sair agitando não sei quantos sonhos de futuro... um futuro que desastradamente eu tinha destruído.
Conto-lhe o caso para que avalie a insciência em que estava daquele momento histórico, o que explica a minha ignorância atual.
Por isso, sempre que puder, sem que isto seja um compromisso que lhe tome o tempo tão bem empregado — transmita-me as suas impressões pessoais.