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Euclides da Cunha 1866 - 1909

''Venci por mim só, sem reclames, sem patronos, sem a rua do Ouvidor e sem rodas. Não invejo, porém,

os que se vão buscando mar em fora, de outras terras, a esplêndida visão...

Fazem-me mal as multidões ruidosas, e eu procuro, nesta hora,

cidades que se ocultam majestosas na tristeza solene do sertão." - Euclides da Cunha (1866 - 1909)

À memória de Euclides (José Marcio Castro Alves)


Rua Humaitá, 67 Rio, 15 de fevereiro de 1907.

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Rua Humaitá, 67
Rio, 15 de fevereiro de 1907
Meu ilustre amº. dr. Oliveira Lima
Desejo-lhes as maiores venturas, e à Exma. sra., no belo remanso que me revelou na sua carta anterior. Realmente, se não fossem as exigências desta vida de pai de família com três filhos às costas, eu correria com a maior satisfação ao seu delicado convite. Mas não devo deixar, agora, o Rio. Fui sempre um descuidado; e neste andar sempre em comissões, sem um emprego fixo gastei imprudente uma boa parte da vida. Não posso distrair-me ainda. Se aí fosse teria, também, vejo-o pela sua carta o prazer encontrar-me com Alfredo de Carvalho a quem devo tantas gentilezas, que com tanta generosidade tem-me perdoado os descuidos inevitáveis minha existência trabalhosa. Peço-lhe abraçá-lo por mim. Li o seu o no Estado. O que ali está é a sua bondade e a sua nobilitadora afeição. Obrigadíssimo.
Leu os juízos de Verissimo e de Araripe? O primeiro voltou à sua birra contra a minha fraseologia arrevesada. Tem, talvez, razão. Mas agora é um pouco tarde para que eu me liberte de semelhante estigma. Estou escrevendo no Jornal, por obedecer a reiterados pedidos do José Carlos Rodrigues. Mas como terá notado é uma colaboração espaçada, de 20 em 20 dias. Guardo, do meu vírus positivista, um pequenino rancor ao jornalismo. O pensamento também exige recatos. O livro abriga-o de algum modo. Um jornal é um resumo de praça pública. Felizmente o do Comercio, na sua imponência conservadora, tem quase o aspecto austero de uma revista de páginas estiradas.
Continuo no Ministério de Relações Exteriores, onde, felizmente, sempre tenho encontrado alguns mapas a rever. Mas não julgo que dure muito este resto de Comissão agonizante.
Tudo muito arrependido de haver recusado uma, pessoalmente oferecida pelo dr. Afonso Pena, e que é a mesma confiada agora ao Bueno de Andrada. Mas como voltar já, tão cedo, outra vez, à monotonia acabrunhadora da Amazônia? Além disto teria de contrariar ao meu velho, e cometer o pecado de dar-lhe um desgosto numa idade em que devo poupar.
Nada de novo. Aqui continuamos com a avenida Beira-Mar e o calor. É um encanto passar-se por ali às três horas! Decididamente os velhos portugueses tiveram carradas de razão para recortarem a velha metrópole de bitesgas estreitíssimas.
A velha metrópole evoca-me d. João VI; e daí, naturalmente, algumas perguntas: vai muito adiantado o trabalho? Não poderemos ler aqui, no Jornal ou no Estado algum excerto antes da leitura definitiva no Instituto?
Creia que todos os seus amigos o aguardam com a mais simpática e ardente expectativa.
Mostrei ao Gastão o artigo sobre o Cabo Frio, que ele fez transcreveram no Diário de Notícias, tendo agradado a todos que o leram. Recomende-nos muito à Exma. Sra. e receba um apertado abraço do seu amº. e admor.
Euclides da Cunha