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Euclides da Cunha 1866 - 1909

''Venci por mim só, sem reclames, sem patronos, sem a rua do Ouvidor e sem rodas. Não invejo, porém,

os que se vão buscando mar em fora, de outras terras, a esplêndida visão...

Fazem-me mal as multidões ruidosas, e eu procuro, nesta hora,

cidades que se ocultam majestosas na tristeza solene do sertão." - Euclides da Cunha (1866 - 1909)

À memória de Euclides (José Marcio Castro Alves)


Rio, 12 de agosto de 1909, três dias antes da sua morte.

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Rio, 12 de agosto de 1909
Otaviano (Otaviano da Costa Vieira, cunhado de Euclides da Cunha)
Anteontem te escrevi. Renovo hoje o velho assunto: mande-me dizer quanto antes se o Velho quer vir já, ou em princípios de setembro. No 12 caso irá o Arnaldo buscá-lo; no 2º eu ou Saninha. Esta última alternativa provém do meu estado de saúde, que me impossibilita dizer desde já se poderei ou não ir naquela ocasião. Sei que aí não se acredita nisto; sei ainda que umas boas almas são-carlenses estranham e criticam muito o que chamam a minha indiferença ou ingratidão. Paciência... A pobre humanidade é frágil, e para os seus juízos despropositados e injustos resta-nos a instância superior da consciência, que realmente nos absolve ou condena. Infelizmente não é de todo verdadeiro o teu otimismo. O haver dobrado o cabo melancólico dos 40 não remove inteiramente o espantalho da tísica.
A prova está em que somente hoje deixei de acordar com febre; e estou plenamente certo de que se abandonar o regime que me impuseram não resistirei — tal o depauperamento e miséria orgânica a que cheguei. Felizmente me sinto cada dia melhor e penso que em menos de um mês terei readquirido a robustez antiga.
Não tenho cartas de meu pai. Acompanhará ele também o falso conceito dos espontâneos e numerosos juizes que aí tenho? Neste caso peço-te que sejas o meu advogado.
Muitas saudades a todos e escreve logo ao teu amO.
Euclides